CAÇA
Descia o Chiado. Sem destino e sem grandes esperanças, porque ainda não era a altura propícia. Descia apenas, sem preocupações... Para os gajos bons ainda era cedo.
Fui andando, olhando aqui, mirando acolá. Nada de interessante...
A noite estava óptima. Era quinta feira e tinha acabado de chegar a Lx. Afinal sempre tinha convencido a cota a orientar-me um guito. Tinha só passado pelo apartamento do Duarte, tomado um duche rápido pa tirar os vestígios da viagem e deixado lá as minhas coisas (é uma pena o Duarte andar mais virado prás gajas... mas não me há-de escapar muito tempo, com aquele corpinho de modelo!). Saí logo pá night, que um gajo não é de ferro, e nem se têm hipótese de vir pa Lisboa todas as vezes que se quer...
Mas, meu deus! visão do outro mundo!!! Nem acredito no que tou a ver! Um relance mostra-me o gajo com o corpo mais perfeito que eu alguma vez vi.
Finjo que não é nada comigo, e páro diante da montra de uma livraria, logo a seguir a ele que lá continua e (espanto!) olha descaradamente para mim!
Uso o pretexto de procurar alguém que por ali devia estar mas não está, para o olhar de novo... Não, não me enganei: ele está a olhar para mim e não se incomoda em desviar o olhar.
A segunda vez que olhei deu para apreciar melhor: um gajo maduro (nenhum puto, como os que me têm assediado), músculos perfeitamente desenvolvidos, que mostram o cuidado e gosto por se manter em boa forma: algumas horas diárias no gym... peitorais perfeitamente desenvolvidos, bem delineados pela t-shirt sem mangas que, em vez de os esconder, os realçava; braços grossos, possantes; pernas perfeitas metidas numas calças de ganga justas e, no lugar onde as pernas se encontram, um proeminente volume. O armário completo.
Já muitas vezes me senti avaliado, desejado, já fui apalpado e até perseguido por gajos que me queriam... mas esta foi a primeira vez em que me senti corar, porque fui literalmente comido com os olhos pelo gajo, no meio de uma rua de Lisboa, em pleno dia...
Afastei-me dali, a pensar: "Se for com este, esta noite, tenho o fim de semana ganho..." e continuei a descer. Fui até ao Chiado, comi qualquer coisa, e demorei-me a ver as montras. Depois, meti-me pelo Bairro Alto e o primeiro lugar onde resolvi ir foi ao Portas.
Assim que entro, apanhei um murro no estômago: junto ao balcão, acompanhado de um amigo, lá estava "ele"...
Viu-me logo que entrei. Sentei-me. Quase de seguida ele acaba a conversa com o outro indivíduo, toca-lhe no ombro, ele sai... e o Thomas dirige-se à minha mesa, sorri com um sorriso que quase me fez vir, senta-se, e simplesmente diz: "Hello! Are you alone?"
Com o coração a bombar a 100 à hora, mas com a voz mais calma do mundo, respondi: "I was, before you were here".
Saímos juntos do Portas 15 minutos mais tarde, para irmos para o hotel onde ele estava; quanto a mim, voltei a casa do Duarte no Domingo à tarde, depois de o ter ido levar ao aeroporto para regressar a Miami.
(poderá continuar...)
Mais um Carnaval!
5 years ago
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