7.8.04

D(i)ário I

NINGUÉM TEM 22 ANOS
Perdido neste sítio onde as pessoas como eu são maltratadas e olhadas de revés...
Enojam-me as conversas, enjoam-me as perguntas. Não quero mais nada senão ir-me embora outra vez.
Estranho tudo e todos... até a mim...
Só hoje já bati quatro punhetas. Eu! que em Bern dava a volta à cabeça a tudo quanto se mexia à minha volta; eu! que em Barcelona fazia por-se de gatas à minha frente quem quisesse, agora condenado a esta terra de merda onde o sexo é crime...
Bem que tento dar umas escapadelas até Lx, mas os cotas não largam o guito, e eu ainda não desci tão baixo que lho palme.
Apenas consegui ir a Lisboa uma vez. Fui engatado no Bairro Alto. Um estrangeiro (são os meus preferidos; os tugas são uns broncos), musculado, com um sorriso lindo. Fodemos à fartazana, até cair para o lado. Mas não é isso que me interessa.
E, afinal, que me interessa?
Apenas que me deixem em paz.
Que não me chateiem se durmo até tarde, que me deixem vestir a roupa que quero, sem me censurarem as opções das camisolas de alças e as calças Energie.
Que me deixem fazer a puta da minha vida sem estarem constantemente a perguntar pela minha namorada (como se eu fosse obrigado a ter namorada e a exibi-la como um troféu de caça)! Só por me fazerem tantas vezes a mesma pergunta — juro! — se não fosse gay, passava a ser só para ter o prazer de os ver fodidos com a resposta. Só que, aqui, ninguém é gay. E eu menos do que ninguém. Não posso ser gay. Só sou gay quando me fecho no meu quarto e ligo a internet, ou quando telefona algum dos meus amigos gay — esses sim, são verdadeiros amigos, que não se esquecem do buraco onde estou metido e me vão ligando a dar força.
Hoje o Alfred telefonou.
É o gajo mais espectacular que conheço. Nem parece alemão, que têm todos a mania que são os maiores...
Conheci-o em Geneve, numa festa. Mas foi diferente dos outros todos. Nessa noite levou-me para casa dele e nunca mais vivi noutro lugar até me vir embora da Suiça. O Alfred não quis sexo; nem deixou. A única vez que tivemos sexo foi na noite da minha despedida. E que noite!!! Não sei quantas vezes me vim. Foi a maior foda da minha vida.
Como é que vim parar da Suiça aqui? Isso também eu gostava de saber!!!... porque raio me deixei levar na conversa da cota e vir fazer a merda dos exames do 12º ano, e agora a cota não me deixa sossegado, a querer saber mais do que eu lhe quero (e posso) dizer...

(...continuará?)

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